Eu queria resgatar o que roubaram de mim, sentir no rosto o vento puro da natureza exuberante, nadar em rios despoluídos, brincar com peixinhos saudáveis, cuidar das plantas, conversar com elas para ficarem mais viçosas, sentar num coreto, ouvir uma música ao som do violino e sonhar a vida de um passado com lindas matas e passarinhos a cantarolarem a tarde.
Na hora do alvorecer, beber cafezinho feito no coador de pano, sentar na beirada do fogão a lenha e ouvir estórias que minha mãe contava da Bela Adormecida e histórias de assombração. Apressada pegar minha sacola com meus cadernos e lápis correr para a escola e aprender a lição e na saída da escola brigar e bater nos meninos que me jogavam beijinhos dentro da sala de aula.
Sair saltitando até chegar no meu lar, que era meu mundo encantado. Fazer minha refeição rapidinha e sumir nesse paraíso que eu morava, e quando as flores me viam sorriam, acariciava-as com e em troca me jogava umas fragrâncias deliciosas. Tirar a roupa no riacho, nadar até sentir uma brisa molhada molhar meu rosto e um vento gelado vindo me avisar que haveria chuva. Rapidamente ao colocar minha roupa senti vergonha, estava virando uma mocinha.
Após a chuva rápida, tomar um banho quentinho na banheira, debruçar na janela e ver o crepúsculo do entardecer, era nessa hora que mamãe me chamava para o jantar. Tudo era natural, os legumes, as verduras, as frutas. Ninguém sabia o que era agrotóxico. Médicos eram poucos, pois quase ninguém ficava doente. Era o famoso médico da família que quando era solicitada sua presença, arriava seu cavalo e a galopes rápidos chegava no local e, nesse mesmo lugar encontrava o vigário, pois o paciente já com idade avançada não queria morrer sem a extrema unção.
Quando da chegada do pôr do sol, dizia -lhe boa noite, pois pensava que ele iria descansar e dava um tempinho pra saudar as estrelas que brilhavam no céu.
Fiquei rapidamente mocinha e me apaixonei por um homem que até hoje está ao meu lado à recordar as belezas de uma vida sadia que a natureza nos proporcionava. Roubaram nossas florestas, nossos campos floridos e, hoje os passarinhos vêm comer da nossa comida, pois as lindas florestas com árvores frondosas viraram um inferno verde: os canaviais e a natureza chora a sua destruição e o descaso do homem.
Agora moro na cidade e como alimentos com esse tal agrotóxico e temos caixinhas de remédios separados a tomar e viver até quando Deus quiser.
Dorli
da Silva Ramos