Estava no computador lendo uns e-mails, era exatamente 13h e 30', quando ouvi um chilrear diferente, reconheci e fui correndo para a área de serviço, olhei pela grade, era um tiziu que não via há 58 anos. Meu coração disparou, chamei meu marido para ver: estava na outra minha casa ao lado, encima da antena cantando e pulando. Meu marido foi buscar a máquina, mas ela estava sem bateria; voltei para pegar o celular e quando cheguei ele tinha ido embora levando consigo meus deliciosos anos de infância brejeira, que quando ia brincar na relva queria pegar o tiziu um pouquinho só na mão, nunca consegui, ele vinha vigiar sua amada e seus filhotes no ninho que fizera na grama alta.
Quantas lembranças voltaram à minha mente e, olha que não sou saudosista, dos anos que fui tão esperta e feliz à brincar com os animais e observando o chilrear dos pássaros, cheirando as flores do campo, bebendo as gotas de orvalho que ficavam penduradas nas plantas e me molhar toda na relva. Era inverno. Descendo um pouco mais, tinha um "riozinho", sentava a sua margem para ver alguns peixinhos. Tudo era natural.
Todos os dias fazia esse itinerário, porque ia levar águas para os porcos e, sem que minha mãe soubesse, tirava as sandálias, só para pegar bicho de pé. Ah! Que coceira gostosa! Mas não adiantava nada, pois antes do banho minha mãe tirava-os. Ah!! Que chato.
Hoje, a cidade perdeu sua beleza natural: pássaros só os pardais que todos os dia entram na minha cozinha à procura de alguma coisa para comer e pombos, os outros pássaros só em cativeiro que não gosto nem de ver o sofrimento que eles passam todos amontoados para venda.
Quando chega a primavera, as flores que vejo nos campos são ipês de todas as cores, foram as únicas árvores que vejo nessa estação e algumas flores resistem nas casas, devido aos cuidados dos moradores , apesar da poluição das usinas que aqui existe. Da uma tristeza danada e um nó na garganta ao lembrar que nas fazendas de tudo se plantava, hoje é um tapete de canavial.
A beleza das flores, dos alimentos naturais foram embora, levando consigo minha infância e adolescência. Hoje só ficou a saudade de um tempo que não volta mais. Mas o tiziu voltou para eu não esquecer das minhas raízes. Obrigada tiziu...
Dorli Silva Ramos