O inverno aqui
onde moro é bem ameno, está chegando a primavera, não da pra ver nenhuma mudança,
principalmente nos campos que deveriam começar a florir perto dessa estação. As flores do campo
precisam dar lugar a cana de açúcar, as Usinas são a alavanca da cidade,
dando muitos empregos tanto ao corte de cana como serviços internos. Aqui nós
temos boias frias advindas do nordeste para o corte da cana.
Quando era pequena não tínhamos quase nada, mas esse nada floria
nosso coração, onde víamos os campos floridos, as fazendas verdinhas, os gados
pastando, pouquíssimos carros. Meio de transporte por aqui era o trem movido a
lenha( o famoso Maria Fumaça) e outro elétrico, bicicletas, carrocinhas e os
taxistas usavam as charretes como meio de transporte.
A maioria dos habitantes tinha nas suas casas, grandes quintais com galinheiro, verduras, legumes, frutas, dos quais se alimentava, havia no
ambiente uma sinfonia de pássaros lindos e coloridos à bicar nossas frutas e verduras, fazia-se necessário colocar papéis brilhantes. À frente das casas havia grandes jardins onde pegava dos campos mudas
de variadas flores e plantava com amor e em pouco tempo estava
florido. Os beija-flores sugavam o néctar adocicado e, eu ficava ali parada tentando pegá-los na mão.
Na primavera era gostoso andar pelas ruas da cidade, algumas ainda não
pavimentadas, mas ninguém ligava, pois o colorido enchia nosso coração de amor.
Nas encostas dos terrenos via-se muitos chiqueiros de porcos e meu
único trabalho: levar água para os porcos e aproveitava para rastejar na grama
par ver ninhos de passarinhos, olhava os filhotes, mas logo tinha que sair,
colhia abobrinhas e pegava ovos dos ninhos.
Não é saudosismo, mas viver num lugar onde cada um sabia da sua camada social, não havia roubos, crimes, raiva e nem inveja, já era uma Benção de Deus. Todos éramos
felizes, pois tínhamos as quatro estações do ano bem definidas, sem fagulhas de
cana queimada à respirar.
Dorli Silva Ramos



