Morava perto d'uma floresta e todos os dias acordava com lindo
trinado do Uirapuru, todos os pássaros se calavam para ouvir a sua majestade
cantar. Seu canto mavioso me deixava feliz.
Sou uma jovem bonita, mas sem os trejeitos das moças da cidade; e
ao ouvir o seu canto corria floresta adentro para ouvir.
Todos os pássaros emudeciam para ouvir o seu maravilhoso trinado,
que se repetia por várias vezes à encantar os outros pássaros e quem por ali
passava e nessa magia eu sonhava um amor.
Um dia, ao acordar, estranhei: não ouvi o canto do Uirapuru; meu
coração já acelerado, pensando nem sei o quê, corri floresta adentro. Chorei.
O Uirapuru, mesmo "feinho", mas com aquela voz
exuberante conseguiu atrair uma companheira que morava n'outra floresta, sumiu
com ela, sabe lá por qual lugar. Voltei pra casa triste.
Um dia, já cansada de esperar fui dormir tarde e ao acordar, ouvi
vários sons diferentes. Dei um pulo da cama e corri para floresta e, para a
minha surpresa, bem no alto de uma árvore ouvi o mesmo Uirapuru cantando e
quando parava, os filhotes estavam aprendendo o seu cantar; nisso a fêmea
começou a cantar bonito, mas nada que se comparasse ao canto do seu macho.
Sabia que um dia ele iria embora e, como não era de costume,
cantou uma melodia triste e naquela noite adormeci como uma pedra, nisso minha mãe me acordou e disse:
perdendo hora menina...temos visitas. Quem são, perguntei a minha mãe: são os
primos mais um amigo da capital.
Senti uma fisgada no peito, sabia que algo ia acontecer, tomei um
banho, coloquei a melhor roupa e entrei na sala para abraçar meus primos e
quando fui cumprimentar seu colega meu coração disparou de felicidade,
começamos a namorar e depois de um ano estava casada morando na capital.
Sou muito feliz aqui no meio desse turbilhão de pessoas, mas foi o
Uirapuru que deu-me sorte e mandou um amor pra mim.