quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Buscando uma razão para viver




Cá estou numa tristeza inconsolável, pois minha vida deu uma virada de noventa graus. Tinha marido e dois filhos e todos se foram num acidente de carro. Eu estava em casa, enquanto meu marido foi passear com os garotos no Safári e na volta, o acidente, nada sobrou na minha vida só a desolação de me ver só sem vontade de viver.
Sei que sou jovem, mas mal tinha começado minha vida e tudo me foi tirado e, às vezes, me pergunto: por que não os acompanhei no passeio de ida? Lá onde estão é bem melhor do que aqui, eram anjos de bondade e, com certeza estão num bom lugar. E eu? fiquei com esse nó na garganta, uma saudade que não tem fim, quero só dormir e beber água.
Numa noite dessas, muito fraca adormeci durante o dia e sonhei com meu marido e, ele dizia: meu amor, você não pode viver aqui, tem muitas coisas a fazer aí na Terra. Levanta coma alguma coisa e viva, nós estamos bem nesse paraíso e as crianças não lembram de nada. Acordei assustada, quase caí da cama de fraqueza e medo.
Fui até a cozinha com as mãos trêmulas de fome comi uma fruta e, paulatinamente fui melhorando até que minhas pernas se firmaram no chão. Se não fosse o sonho eu iria morrer, ou seja, me suicidar e nunca mais iria encontrar minha família.
O tempo passou, cinco anos. Estava eu numa lanchonete comendo um lanche numa mesa, só, e ouvi alguém dizer: posso me sentar aqui, não tem mais lugar, abanei a cabeça que sim.
Sempre fui uma mulher bonita, mas agora estava sem brilho, com muito desleixo e sempre meus olhos lacrimejavam.
O rapaz sentou na minha mesa e disse-me que gostaria de me ver no outro dia, ele queria tirar essa tristeza que abatia meu rosto ainda belo e jovem; dei-lhe um sorriso amarelo e disse sim.
Chegando à noite, apesar de estar viúva havia cinco anos, não esquecia aquele fatídico dia, cansada do trabalho, banhei-me e fui dormir.
Queria sonhar com meu marido e nada, ele já havia encontrado um lugar maravilhoso para abrigar nossos filhos e eu precisava viver, foi aí que olhando-me meu reflexo no espelho me vi ainda bela e sorri.
No outro dia, depois do trabalho parei na lanchonete e ali já se encontrava o jovem a minha espera, levantou-se e, como um cavalheiro puxou a cadeira para eu sentar e ficou encantado com o brilho do meu olhar.
Nos apresentamos: Lucas e eu Clara. Saímos à noite para assistirmos um concerto musical não muito longe da minha casa,
Chegando em casa, beijou meus lábios e senti que ainda tinha vida para continuar e conquistar um outro amor. Nos casamos em seis meses.
Sou uma mulher agora feliz, tenho uma menina, mas nada me faz esquecer a outra família que foi morar n'outro plano.


quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Desistir dos sonhos


Taciturno a passos lentos
Desisti dos meus lindos sonhos
Hoje amargo, rasgo a vida
N'uma triste tarde sossegada

Onde deixei os meus sonhos?
Que hoje só vejo migalhas 
Apodrecidas nos bueiros fétidos
Infestando a vida sem batalhas?

Esnobei a vida, e o que me resta
É meu ódio, o medo e a raiva
Pois tudo na vida tive, "as pencas"
Hoje, só vidas estraçalhadas

Cansei de andar a esmo tristonho
Sentei meu velho corpo num banco
Ouvi meu eu: siga, não desista
À cada dor d'alma existe uma saída


terça-feira, 19 de agosto de 2014

CRÔNICA: O casamento do Nhonhô ( verídica )




Eu era muito criança, morava em Minas Gerais, numa cidadezinha do interior, num bairro muito pobre. Todo mundo conhecia Nhonhô, que não gostava de pegar no "batente", vivia pelos bares tocando violão. Não bebia e nem fumava, pelo ao menos isso de bom. Morava na casa da sua tia avó num casebre de dar dó e muito descuidado, pois ela tinha que batalhar na roça para dar de comer a Nhonhô, o seu sobrinho vagabundo mais com grandes qualidades artísticas( nunca foi atrás).
Nhonhô começa a receber na sua casa, enquanto a tia estava na roça uma jovem gorda, não era feia e nem bonita e, não demorou muito tempo a jovem engravidou. Foi marcado o casamento, sua tia coitada, pobre fez um bolinho e comprou uns docinhos e fez limonada , era a festa do casamento, que só os vizinhos iriam, a madrinha deu um vestido de noiva e o dia chegou.
Como de costume, a noiva chegou primeiro, ela estava até bonita de noiva, a praça da igreja lotada para o casamento do Nhonhô, ele era muito querido na cidade.
Esperou...Esperou e nada de aparecer. A noiva chorosa e os convidados foram para casa e os poucos quitutes acabaram. Ela muito triste saiu vestida de noiva por uma pista perto da cidade, nisso passou um jipe da cidade, pegou-a e trouxe para casa e lhe disse: não se preocupe, nós encontraremos o seu noivo.
O pai da noiva tinha uma espingarda que lustrava todos os dias. De repente Nhonhô apareceu na cidade com a maior cara de pau; o pai da noiva ficou sabendo, passou a flanela na arma e saiu e foi bater na casa da tia do noivo fujão. Nhonhô quem abriu, não esperava o sogro, encostou o cano da espingarda na sua boca e disse: ou casa com minha filha ou morre e ele levantou a mão. E o casamento saiu só no cartório, nasceu um menino lindo, não poderia ser dele, mas...eles ainda tiveram mais dois filhos.
Ela não era muito certa, deixou os filhos na cama e fugiu com outro que até hoje ninguém sabe do seu paradeiro. Nhonhô deu um filho para cada um, mudou de cidade, arrumou um emprego e se juntou com uma mulher.
Já era mocinha, minha mãe recebeu uma carta dele, pegamos o carro e fomos visitá-lo numa cidade bem longe daquela que ele morava.
Meu Deus! Quando vi a mulher dele quase desmaiei: horrível, suja, pés no chão e quando fechava a boca os dentes ficavam  fora dela.
Logo que ele chegou do serviço lhe disse: seria melhor ter ficado com a outra que era um pouco mais bonita.
Fomos embora, nunca mais vi Nhonhô, às vezes, me bate uma saudade dele...Ô cabeça dura!

A crônica conta um fato comum do dia a dia, relata o cotidiano da vida real das pessoas, enquanto o conto e a fábula contam fatos inusitados ou até fantásticos. Ou seja, distantes da realidade.


segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Meu pensamento voa




Meu pensamento está aprisionado dentro do meu cérebro, mas hoje vou deixá-lo solto para voar onde quiser conhecer: voou embaixo das nuvens brancas e frias ouvindo os murmúrios das ondas do mar, passou por mim e eu o deixei passar na maciez das minhas vestes até ele se cansar.
Não obstante até onde nossas vistas veem, o vento muito audacioso o transportou às nuvens, chegando aos céus. Chegando lá, ficou deslumbrado com toda beleza vista; era noite e as estrelas brilhantes e coloridas ofuscavam suas vistas, mas teimoso como era foi conversar com a lua, esta já sabia que era a musa dos namorados ficou feliz com aquele pensamento voando num vento já cansado, então, desceu do vento para ele descansar e foi conversar com a lua, querendo saber o que ela tinha que embebia os sonhos dos poetas apaixonados, ela apenas respondeu que os vigiava com amor.
Com o vento já descansado, o pensamento agarrou-se nele e foi conhecer o resto do céu brilhante à noite. As estrelas mantiveram distância do pensamento, pois se chegassem perto queimariam todos os seus neurônios.
O pensamento estava cansado e o vento também e, resolveram dormir numa nuvem branca quentinha, mas no meio do sono, a nuvem sacolejou os dois, avisando que vinha chuva forte e, que deveriam ir embora pois deixaram sua dona a mercê d'um mar violento.
Mais que depressa, voaram como um jato até a beira do oceano, onde ela estava, entrou em seu cérebro, ela recobrou os sentidos e, vendo o mar bravio e a chuva começando a cair forte, correu à procura de um abrigo que não demorou a achar. Um casal se apiedou da jovem mandou-a entrar, tomou um banho quentinho e foi deitar-se numa cama fofa e acordou com as ideias fervilhando.
Não demorou muito tempo pegou um lápis e papel e escreveu sua aventura: meu pensamento voa.