Éramos apaixonados, um
amor que deveria se perpetuar para sempre em qualquer lugar, os beijos
carinhosos me davam a certeza do seu amor. Era educado, tranquilo e muito
sutil. Um ano foi o tempo que durou nosso amor, saiu da minha vida, como se
nunca tivesse entrado. Que desventura!.
Tinha apenas vinte anos, nunca mais ouvi falar dele. Namorei outros
rapazes, mas nunca tive vontade de me casar com ninguém, pois eu só dividiria
minha vida com o homem que eu amasse. E o tempo passou, e como passou, hoje
tenho setenta anos e passei a vida toda esperando por ele. À tarde ia sentar na
praça arborizada da minha cidade para ler, ler era apenas uma desculpa, era a
esperança de um dia poder reencontrá-lo.
É nesse banco que eu o espero há cinquenta anos, procurei não sofrer: namorava esporadicamente, ia à bailes, viajava, trabalhava. Mas todos os dias, após o trabalho eu ia lá no banco ler a saudade.
Tinha esperança que um dia ele voltasse, pois foi nesse banco que nossos encontros aconteciam há muitos anos.Parece engraçado, ninguém sentava nesse banco, não sei o porquê, talvez era a fragrância do nosso amor que ali se impregnou, sempre que chegava até ele estava vazio como está vazio o meu coração por tanto e tanto tempo.
Um dia andando pela cidade a esmo, sem saber onde iria, pois minhas pernas já estavam cansadas de tanta labuta e, já desanimada da espera, comecei a chorar. Nisso um homem de estatura baixa perguntou-me: por que chora? Ao levantar meu olhar meu coração começou a disparar, conheci aquele sorriso, aquele cheiro e ele disse: Voltei, meu amor, não pude voltar pois estava em outro país em guerra. Ninguém entrava e nem saía daquele lugar. Fui conquistar bons empregos e fiquei preso no país e na minha própria solidão.
Beijou minhas lágrimas que escorriam cansadas e disse: vamos viver juntos o tempo que nos resta e sentados não no mesmo banco para não relembrar tristezas, então escolhemos outro banco em outro lugar e começamos a recordar nossa vida e o amor que não acabou.
Dorli da Silva Ramos