Procurando um lugar sossegado e um bom astral para descansar meu
corpo cansado da labuta diária, resolvi pedir a uma estrela que me levasse até
o céu para pernoitar. Pelo menos, uma vez, queria conseguir encher meu
coração de paz, amor, emoções e todos os adjetivos para que eu pudesse comungar
com minha família, que estava se deteriorando por falta de diálogo, de
discernimento e amor; uma solução de favorecimento a essência do amor familiar.
A brilhante estrela, com seus raios de
arco-íris guiou-me até uma nuvem sonolenta e, ali me acomodei.Não conseguia
dormir tamanha era a beleza dos habitantes do céu: A lua girava sonolenta, as
estrelas trocavam uma com as outras, as suas luminosidades e uma brisa gelada
veio acariciar meu rosto, desejando-me boa noite.
Vi bilhões de estrelas coloridas que faziam
seu bailado como a dança do cisne, ofuscando umas as outras com seus brilhos
reluzentes. Era o espetáculo de um céu todo iluminado, onde só eu, ser vivente, pude
presenciar.
Tudo estava indo tão bem, quando uma chuva
começou a cair, eu não tinha asas e, mesmo se tivesse não teria como me
abrigar das grossas gotas d'águas. A nuvem que me abrigou, assim como as outras
escureciam e sem dó e nem piedade jogavam suas águas que caíram no sertão...
Sabendo por uma estrela que o sertão brasileiro fora o privilegiado, chorei.
Pois era ali que morava.
Quis voltar para casa, a saudade da família
doía meu peito e queria ver a chuva cair no meu rincão. Então, a estrela
bondosa levou-me para casa, deixou-me sorrateiramente na relva molhada perto
das plantações, agradeci a estrela e, chorei.
Chorei ao ver o meu chão encharcado, o
milharal sorrindo, meu regato cheio e as mananciais jorrando água cristalina.
Bebi dela. Olhei para o céu a estrela sorria minha felicidade.
Adentrei minha palhoça, todos vieram me
abraçar, levaram-me até o quintal, as galinhas cacarejavam, os porcos roncavam,
os gatos miavam, os pássaros nos seus gorjeios. Então, perguntei: onde está o
cavalo? Vinha vindo a minha direção, todo feliz relinchando de
felicidade. Passei a mão na sua crina e perguntei: Por que toda essa festa?
Minha mulher me abraçou e com os olhos lacrimejando, mas de felicidade,
contou-me que eu estava em coma profundo havia três dias. Todos os meus filhos me abraçaram
e, naquele lugar, à noite a estrela me olhava e mandava chuva.
Então, corri para dentro da palhoça para comer milho verde assado, na brasa do fogão a lenha.
Dorli Ramos ( Conto )