20 de novembro... Dia da Consciência Negra? Opa, espere aí !
Não, eu sou preto e me nego a reduzir tudo o que eu sinto sobre minhas
raízes africanas a um simples dia. Eu sou preto e me recuso a seguir supostos
ativistas pretos que dizem que todos os pretos devem agir da mesma forma. Eu
sou preto e me recuso a seguir o que os esquerdistas brancos acham que eu devo
seguir. Eu sou preto e me recuso a concordar com cotas em Universidades ou
concursos públicos voltados para pretos como eu.
Ah, lá vem o branco esquerdista falar que eu sou contra as cotas por que
eu tive ótima educação. É claro que eu tive, agradeço a Deus por ter me dado um
pai e uma mãe capazes de fazer isso por mim. Agora, se eu pudesse escolher, eu
não iria me sujeitar a fazer uma prova que leve em conta a minha cor como fator
positivo para mim. Jamais!
Por mais que essas cotas busquem resolver um problema histórico de
injustiça, convenhamos: será algo momentâneo e, a longo prazo, criará outro
problema histórico, e dessa vez bem pior. Nós pretos já somos fodidos, já somos
alvos de olhares esquisitos mesmo quando nos formamos na USP, UNESP ou UNICAMP
através de nossas próprias energias. Imaginem o tipo de coisa que teremos que
passar caso essas cotas sejam aprovadas? Todo e qualquer preto, seja ele
advogado ou médico, tendo entrado na faculdade via cotas ou não...todo preto
passará por uma espécie de exame ocular logo ao atender qualquer pessoa, seja
ela branca ou preta. Afinal, convenhamos: todo mundo tem o direito de, pelo
menos, desconfiar da capacidade de um profissional que foi selecionado mais
pela cor e menos pela capacidade.
Por isso, meus irmãos pretos, vamos parar com o "mimimi" ,vamos deixar de lado o falatório, vamos evitar seguir aqueles que, no fundo,
nos tratam como coitados. Que o feriado de 20 de novembro seja menos “da
consciência negra” e mais do Zumbi dos Palmares. Que seja menos dos partidos de
esquerda que acham que sabem o que é melhor para nós e, pior ainda, que acham
que sabem como temos que pensar e nos comportar, e seja mais de admiração à
trajetória dos Joaquins Barbosas da vida... Vamos ouvir menos os ditos
“líderes” e ler mais a biografia dos guerreiros. Vamos ser menos pacíficos como
o grande Martin Luther King e mais “agressivos” como o outro grande Malcolm X.
Nós nascemos da luta contra o racismo e a opressão. E por isso mesmo não
precisamos de cotas ou de Bolsas Família. Precisamos apenas perceber que
vivemos no capitalismo e é através desse capitalismo que faremos com que nossos
filhos e netos tenham uma vida confortável e prazerosa. Essa é a verdadeira
consciência negra: UM PRESENTE MELHOR QUE O PASSADO PARA UM FUTURO MELHOR QUE O
PRESENTE.
Cristovam Ramos Neto ( meu filho )