casamento-com-lavanda
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Oh!
Meu amor, perdoa-me se por muitas vezes não beijei teus lábios como antigamente
quando éramos jovens; perdoa-me por não abraçar-te mais por muito tempo;
perdoa-me de não dizer-te: amo-te; perdoa-me por não levar-te à passear no
jardim à noite e contar as estrelas, como fazíamos no começo do nosso casamento.
Nossa
vida virou uma rotina, nasceram os filhos, eu fazia amor contigo sem te beijar,
sem querer saber se sentias prazer, perdoa-me por muitas vezes te fazer infeliz
quando saía à urgia com outras mulheres e tu ficavas a chorar em companhia de
nossos filhos.
O
tempo passou eu não conseguia nem mais olhar pra ti; fiz de uma linda jovem um
farrapo de mulher sem amor; perdoa-me por muitas vezes chamar-te de velha e
feia e tu corrias para o banheiro para chorar tua solidão.Nossos filhos
choravam meus maus tratos contigo e com apenas cinquenta anos adoeceu e eu
berrava na cozinha: por que tu não morres mulher? Quero uma mulher mais jovem
para satisfazer meus desejos. Silêncio total, ao entrar no quarto te vi branca
como uma cera, caí em mim que tu estavas morrendo e debulhando em lágrimas
gritei: meu Deus! O que fiz do meu viver? e sentado na cama tu
olhaste pra mim e eu te perguntei: tu me perdoas? Ela não conseguia falar, só
balançou a cabeça que sim e morreu.
Meus
filhos me odeiam e com razão e, num dia chuvoso peguei uma mala velha e estou
até hoje a mendigar nas ruas um pedaço de pão. Esse é meu castigo aqui na
Terra, mas todos os dias eu falo baixinho: mulher: perdoa-me.
Dorli Silva Ramos