A cidade está vazia. Onde estão as pessoas? Desapareceram? Um
vazio gélido toma conta do meu corpo, chove e a chuva fina parece contar os
meus passos nessa noite fria. Estou suando de medo, será que acabou o mundo e
só eu fiquei? Sinto uma brisa fria passar pelo meu rosto. Morri?
Uma terrível sensação de abandono impregna minha alma que
num terrível momento comecei a levitar, queria gritar, ninguém me ouvia.
Continuava minha lenta caminhada(...); passava minhas enrugadas mãos no meu
rosto, rocei com elas meus óculos. Estou perdido no vazio da noite e dentro de
mim mesmo.
Quem sou eu? Não lembro meu nome, coloquei a mão no bolso e
dele tirei um papel e nele estava escrito: Você foi o único sobrevivente, as
altas ondas subiram a praia. Que praia? Estou andado numa cidade fria, sem humanos,
sem animais, só o vazio me faz companhia.
Aos poucos comecei a ver vultos brancos se mexendo; demorei pra perceber que estava numa U T I.
Quando melhorei fiquei sabendo que tinha sofrido um acidente
de carro e, de toda a minha família, só eu sobrevivi. Senti lágrimas quentes
correr meu rosto. Pensei: por que só eu sobrevivi?
Saí do hospital depois de um mês, adentrei a minha casa
vazia, chorei um oceano sem fim, nisso ouço um au-au fraquinho. Era minha
cachorrinha quase morrendo de fome. Cuidei dela, abri as portas para ela sair,
iria ficar ali sozinho sem alimento e água até encontrar minha família...
Dorli Silva Ramos