A meia noite, sentada no sofá, estremeço, dirijo-me para a porta. Abro, e o seu ringir se faz
presente. Saio. E no meio da escuridão da noite meu pensamento viaja dentro da
minha alma. Sinto meu corpo tremer com o vaivém das palmeiras que assoviam no meu quintal e, nesse bailado, entorpeço.
Vejo minha alma calmamente despregar-se do meu corpo e ele
se diluir em pó. Um
pó fétido que impregnava o ambiente.
Minha alma era meu confessionário, onde depositava os adjetivos
escabrosos que por palavras horrendas que as deferia aos meus pais, irmãos, amigos e, por
tantos desapegos foi grudada no meu corpo uma alma que deveria sofrer as
agruras dos meus horrores ditos pela minha boca diabólica. Minha alma sofria a
brisa gélida e estarrecedora e podia ver tudo o que meu corpo fazia durante o
dia.
É a minha maldição, pois jamais poderei passear à noite pela
praça, encontrar meu namorado que nada sabia(...), mas sentia que eu tinha algo
estranho e, por essa estranheza todos os meus namorados sumiam, pois quando iam
me beijar faziam caretas, então, perguntei o porquê desse afastamento. Ninguém
queria dizer até que um mais corajoso disse que meu beijo tinha o gosto de um
corpo em decomposição.
Não existe mais aquela jovem linda que era má, pérfida e
dissimulada...Não existe mais, só em pensamento com esse destino macabro.
As cinco horas via meu pó amontoado transformar-se no meu corpo e
num solavanco, minha alma adentrava nele. Nunca dormia...era minha sina.
Que pena! Uma jovem tão linda proibida de viver uma vida normal
devido a sua imensa maldade e, toda noite seu pensamento entrava dentro da sua
alma.