Me perdi nos caminhos da vida, saí pelas veredas sem olhar os
velhos que ficaram a chorar. Quis me aventurar numa vida de loucuras, facilidades
e desamores. Cobri-me de astúcia, onde numa "onda" de amigos, fazia o
dinheiro vir com facilidade.
Rodava as cidades com meus carrões, belas mulheres se arrastavam por "mim" e fui deixando a vida rolar num mar de aventuras. Nunca
quis saber mais de meus pais e irmãos que com certeza, caso estejam vivos,
choram até hoje a minha ausência.
Segui em descaminhos, onde a tortuosidade me cegava, deixando um
amor a me esperar na saudade da sua solidão.
De repente, senti-me acorrentado ao desprazer, não via mais
alegria na vida, comecei a sentir saudades da Rosinha, minha noiva, que deixei
junto com meus pais numa situação de início de gestação, então, comecei a me
questionar: Que fiz da vida? Vou voltar.
Pelos descaminhos tortuosos não fui feliz e dentro do meu peito o
remorso doía e queria tentar costurar meus erros do passado e, se desse tempo
casar com Rosinha e pedi perdão aos meus pais.
Agora pobre, sem meus carrões fui retornando a minha casa
pensando...Quem sabe eles me perdoam. Cheguei a uma pequena fazenda, onde há dez
anos tinha saído, ela estava abandonada; fora saqueada e de longe vi a nossa pequena palhoça. Chorei.
Minhas lágrimas se misturavam com meu suor e o meu temor estava
por acontecer. Naquela palhoça não havia ninguém. Devo ter matado meus pais de
desgosto, a Rosinha não encontrei, ajoelhei no chão e clamei perdão. Nisso
ouvi: papai.
Não acreditei, era meu filho que correu a me abraçar dizendo: todos
os dias no sono do pôr do sol venho cá pra estrada a sua espera. Ajoelhei-me
aos seus pés e quando ia pedir perdão ele disse: eu já o perdoei e mamãe o
espera em casa.
Com as mãos atadas nas do meu filho caminhamos e quando estávamos
chegando o sol já havia dormido, só se via uma luz naquela palhoça.
Adentramos a casa, Rosinha sorriu e me abraçando disse baixinho:
eu sabia que voltaria.
Mesmo em descaminhos ela me esperou, só os meus pais não
aguentaram a saudade e morreram. Fiquei petrificado de tristeza, quando Rosinha
entregou um bilhete onde estava escrito: nós nos encontraremos no céu um dia.
Filho, nós sempre o amaremos. Desfaleci.