Meu dia amanheceu
solto, vou para o campo me desnudar, tomar banho na cachoeira gelada, secar meu
corpo nu ao sol, entrar num campo cheio de flores, me vesti de primavera para
sonhar. Dar invejas as flores naturais de belezas sutis, roubo a fragrância de
uma flor para meu corpo perfumar. Reviro o campo, converso com as plantas. Mas,
de repente uma nuvem gigante escurece o céu. Meu corpo treme de medo: vai vir
chuva torrencial e, ela chegou arrasando as lindas flores que choravam, levando
minhas roupas que eram de flores da primavera, deixou-me sem piedade
completamente nu e meu corpo molhado, sujo de barro. Os trovões e raios
pareciam que iam incendiar a terra e eu, chorei. Chorei um choro doído ao ver
as flores agonizando e eu as acariciando, vi suas cruéis mortes.
Fiquei
revoltada, pedi a um anjo que passava, um par de asas, subi ao céu, briguei com
as nuvens escuras e apavorei os relâmpagos dizendo que era uma fada e que os
transformaria em fantasmas se não fossem à terra, ressuscitar as flores mortas
do meu lindo campo.
As
nuvens e os raios tremendo de medo da minha fúria desceram ao campo, chegando
lá jogaram um pozinho em todas as flores, que se levantaram mais belas e mais
perfumadas do que antes. Eles subiram ao céu, foi aí que uma flor
gritou: você está nu? Nem tinha percebido, cobri-me com algumas ramagens e uma
coroa de margaridas colocaram na minha cabeça sorrindo em agradecimento.
Hoje
eu vivo as quatro estações do ano com muita intensidade juntinho com meu amor
que me aquece com seus carinhos e me chama de mulher primavera.
Dorli da Silva Ramos
