Era simplesmente uma garotinha linda de quatro anos, com vestes
brancas de crochê e no chapeuzinho um laço de fita rosa e duas tranças, atravessava a primeira
esquina da sua vida. Muito longe foi morar, nunca mais conseguiu lembrar-se da
sua vida passada. Viajou...viajou e virou outra esquina, só se recorda do frio
e do milho verde assado na brasa na casa da sua avó. Viajou...viajou e só se
recorda que caiu da janela na escada. Chovia.
Mais crescidinha, aos cinco anos, viajou de "jardineira"
e com ela havia um homem, talvez um parente. Chegaram ao destino e numa casa
com escada a menina subiu, ao olhar para trás, mais ninguém. Mais uma esquina
da vida atravessou. Brincava, ia a igreja, apanhava e era também amada. Foi
crescendo virou uma linda jovem. Casou-se sem amor. Virou mais uma esquina da
vida. Nasceram filhos, depois veio o abandono e sozinha atravessou mais uma
esquina da vida.
A beleza da sua cútis e corpo fez muitos apaixonados e com um deles
foi morar, conheceu o amor, virou mais uma esquina da sua vida, continuou a trabalhar, filhos
crescendo, casando e depois solidão: morte do companheiro, virou a penúltima
esquina da sua vida.
Velhinha e só no Asilo virou a última esquina da sua vida: a morte. Foi esquecida...Vocês lembram, sem contar, quantas esquinas da
vida ela virou para encontrar a plenitude? Quem sabe o descanso...
A vida de todos quase se iguala a da garotinha linda de quatro anos que
brincou nas esquinas da sua vida.
Dorli Silva Ramos