sábado, 21 de dezembro de 2013

As esquinas da vida ( ficção)



 Era simplesmente uma garotinha linda de quatro anos, com vestes brancas de crochê e no chapeuzinho um laço de fita rosa e duas tranças, atravessava a primeira esquina da sua vida. Muito longe foi morar, nunca mais conseguiu lembrar-se da sua vida passada. Viajou...viajou e virou outra esquina, só se recorda do frio e do milho verde assado na brasa na casa da sua avó. Viajou...viajou e só se recorda que caiu da janela na escada. Chovia.
 Mais crescidinha, aos cinco anos, viajou de "jardineira" e com ela havia um homem, talvez um parente. Chegaram ao destino e numa casa com escada a menina subiu, ao olhar para trás, mais ninguém. Mais uma esquina da vida atravessou. Brincava, ia a igreja, apanhava e era também amada. Foi crescendo virou uma linda jovem. Casou-se sem amor. Virou mais uma esquina da vida. Nasceram filhos, depois veio o abandono e sozinha atravessou mais uma esquina da vida.
 A beleza da sua cútis e corpo fez muitos apaixonados e com um deles foi morar,  conheceu o amor, virou mais uma esquina da sua vida, continuou a trabalhar, filhos crescendo, casando e depois solidão: morte do companheiro, virou a penúltima esquina da sua vida.
 Velhinha e só no Asilo virou a última esquina da sua vida: a morte. Foi esquecida...Vocês lembram, sem contar, quantas esquinas da vida ela virou para encontrar a plenitude? Quem sabe o descanso...
 A vida de todos quase se iguala a da garotinha linda de quatro anos que brincou nas esquinas da sua vida.


Dorli Silva Ramos


sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Vou jogar no baú



Mensagens e Gifs da Teka


 Hoje acordei decidida a não viver de lembranças. O tempo passou rapidinho e preciso urgentemente viver meu presente junto com meu velho amor que está sempre ao meu lado me dando forças para continuarmos a nossa jornada de vida.
 Todos os meus pertences de quando era jovem estavam muito bem guardados, mas hoje vou jogar tudo no baú, vestidos, fotografias e cartas de amor, diários.
 Cheguei a essa conclusão porque sei que vou sofrer  menos a velhice sem recordações e poder curtir minha vida junto com meu velho amor que sempre foi meu protetor.
 À noite, quando a lua estiver adormecida, vamos colocar o baú num carrinho e com a força dos dois levar-lo até a beira d'um riozinho que tem aqui perto da nossa casa e empurrá-lo até alcançar a correnteza das águas.
 Sentados à beira do rio, sem esse passado de beleza, iremos esquecê-lo, que por muitas vezes atrapalhou a nossa vida presente.
 Agora, dissipando tudo que me trazia lembranças da minha beleza e charme de outrora, olho o meu velho e lhe digo: eu amo você. Juntos agora sem nada para recordar vamos curtir o resto de nossos dias, aproveitando o máximo que a vida puder nos oferecer.



Dorli Silva Ramos

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Se eu pudesse...



Se eu pudesse te dar meu coração
Não sofrerias de amor
Se eu pudesse te dar meu coração
Teu sorriso ficaria irradiante
Se eu pudesse te dar meu coração
Teu corpo teria saúde
Se eu pudesse te dar meu coração
O faria amar demais (...)
Se eu pudesse te dar meu coração
O faria aflorar em paixões
Se eu pudesse te dar meu coração
O faria sentir o amor que sinto por ti
Se eu pudesse te dar meu coração
Tu viverias a minha vida
Mas como não posso te dar meu coração
Quero mostra-te o caminho
Da esperança 
Pois se eu te der meu coração
A morte me sorri

Dorli Silva Ramos


quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Espelho da solidão


Mensagens e gifs da Teka


 Às vezes, me pego diante do espelho conversando comigo mesma e, uma dor faz dilacerar minha alma. Vejo um reflexo sofrido, cansado, desleixado pelo sofrimento de muitos anos que me culminou com a solidão.
 Casei-me muito jovem, ou seja, fui ofertada ao meu marido pelo meu pai.  Apesar de não amá-lo, era um bom homem, mas não conseguia amá-lo e, mesmo não o amando, ele se foi para um outro plano, deixando-me quatro filhos para criar.
 Minha casa era simples e pequena, eu costurava praticamente dia e noite para criar meus filhos e dar-lhes uma boa educação. Até que o amor deu uma passada pela minha vida. Fui amada e beijada, mas eu não tive tempo para o amor, e esse amor passou como um vento, deixando uma brisa fresquinha no meu rosto, renasceu por pouco tempo a paixão do meu corpo.
 Passei minha vida a trabalhar sem cessar. Esqueci de viver...Os filhos casaram e fiquei só.
 Hoje, com quarenta e cinco anos, vejo minha imagem sofrida no espelho, o desleixo com meu corpo, minhas vestes surradas e com alguns sulcos no rosto pela vida sofrida.
 Então, me questionei: o que fiz da minha vida? E uma voz atrás de mim respondeu: esqueceu de viver um grande amor.Lembra? Voltei-me e vi  Reginaldo o homem que me ofereceu amor e neguei por falta de tempo. Então, ele me disse: nós fazemos o tempo e vim aqui para lhe oferecer todo o amor que quis entregar só aos seus filhos e eles a abandonaram. Você nunca mais sofrerá de solidão.
 Reginaldo me disse: amanhã, quero passear com você, quero mostrar todo o amor que um dia lhe ofereci. Quero-a linda só para mim. Abriu a porta e saiu.
 Meu coração batia forte e fui coser um lindo vestido para sair com Reginaldo.  Afinal, eu tenho o direito de ser feliz.
 No outro dia batem à porta, meu coração acelera. Abri, era ele e quando me viu disse: Meire, você está linda! Beijou-me e fomos passear.
Ninguém merece viver sozinho sem amor, sempre há tempo para amar.




Dorli Silva Ramos