Todos
os dias passo diante do meu quadro quando tinha dezenove anos, um nó na
garganta faz meus olhos lacrimejarem e, quase não consigo acreditar na besteira
que fiz com a minha vida. Tinha alguém que me amava a loucura, me respeitava
como mulher, escrevia poesias e me endereçava e ao abrir o envelope meu corpo
ardia de amor e paixão. Fazíamos lindos passeios e promessas de um breve
casamento.
Um
dia, por bobeira minha disse que não o amava mais, ele empalideceu, deu meia
volta e foi caminhando, corri até ele, disse que era brincadeira. Olhou para
mim chorando e me disse: adeus, nunca mais você vai saber de mim.
E o
tempo foi passando e eu inutilmente a procurá-lo sem cessar. Já faz cinquenta
anos que nunca mais soube dele. Talvez tenha morrido e não achado o corpo.
Não
consegui amar mais ninguém, então, vivia à noite nos meus sonhos, que
pareciam reais, minha vida se desenrolou de uma forma autêntica e prazerosa.
Ele
chegava do trabalho, me pegava no colo e me beijava e numa grande banheira
cheia de pétalas de rosas o amor e a paixão fluíam, passeávamos pelos campos
floridos, sentávamos na grama e me fazia lindas poesias de amor e ali, diante
da lua e das estrelas nos amávamos com ardor. Foram nossas únicas testemunhas.
Hoje,
diante do espelho, passo as mãos nos sulcos que o tempo fez com minha pele e
procuro imaginar você em algum lugar pensando em mim.
Esse
é meu saudoso jeito de viver a solidão....