Onde está
minha ingenuidade que não consigo encontrá-la? Em que esquina da vida ela
feneceu?
Hoje choro
a vida que ora perdida nos caminhos de encontros falidos,
destruídos pela ação do vento que me tirou da fantasia para viver desencontros e, assim minha vida mais parece um esgoto de desilusões.
Às vezes, perdida em pensamento, sinto saudades da minha ingenuidade infantil e, sozinha
num quartinho mal cheiroso, abraço minha boneca que guardei pra que ela engolisse meus dissabores.
Por que não
parei naquele tempo bom, onde conversava com as bonecas e as flores ao redor do
barraco onde vivia com minha pobre família, era feliz na adolescência, mas a
vontade de ser modelo me fez sumir de casa rumo a cidade grande. Tudo foi uma
triste ilusão, mas vou tentar consertar o meu jeito de viver. Amanhã volto pra
casa.
Cheguei com
um único bem que consegui: um carro popular que estacionei perto de casa; a
senti solitária, de repente uma mulher aparece e diz: Quem está aí? Sou eu
mamãe, aquela sua filha que abandonou a família e foi morar na cidade grande
cheia de tristes desilusões. Vi que ela olhava em outra direção. Saí do carro a
abracei e chorando pedi perdão, ela enxugou minhas lágrimas com seus beijos e
fiz o mesmo com ela.
Mãe, onde
estão os outros, aí que ela me abraçou e chorou dizendo: logo que você foi
embora, aqui deu uma tempestade e a forte enxurrada levou seu pai e irmãos, só
restou eu que estava na casa da sua tia na cidade e de dor chorei tantos anos a
solidão que deu-me uma forte trombose num olho e com a idade a outra ficou
fraquinha.
Contei a
ela que havia perdido a ingenuidade nas esquinas da cidade grande e ela me
abraçou falando: filha aqui não tem esquinas, sempre a esperei, vá ver o seu
quarto todo arrumadinho.
Não
menospreze sua família pela sua precariedade de vida, pois lá fora você perde a
ingenuidade e nem sempre existe tempo para consertar a vida.