sábado, 6 de abril de 2013

Olhando meu interior



Hoje quero parar de sonhar o impossível, entrar dentro do meu eu e, com os olhos bem atentos conseguir nadar nas minhas artérias até chegar ao meu coração, pois ele está machucado por um amor malvado que sem piedade me disse adeus.Passar um remédio na ferida e seguir viagem até meu cérebro e conversar com ele, dizer-lhe que tenha mais equilíbrio nas suas emoções para eu não sofrer.
Quero entrar dentro dos meus neurônios, separar os bons e aprofundá-los na grandeza de saber amar como a simplicidade do sorriso d'uma criança, procurar entender mais as intenções de meus amigos e inimigos e, a partir daí, achar um caminho mais equilibrado para poder conviver comigo mesma e com os outros com  mais prazer. Prazer de poder sentir uma saudade gostosa, de uma data inesquecível e saborear o amor até a sua última gota de sangue.
Não estou procurando a perfeição e sim um modo mas simples de dizer que gosto de estar aqui, madrugada adentro escrevendo minhas alucinações, meus devaneios, minha enorme vontade de achar um anjo que distribua dignidade e amor fraterno aos homens de corações acorrentados pelo desamor d'uma vida de sofrimentos e que encontrem forças dentro em si mesmos num turbilhão de paciência e boa vontade para poderem almejar a alegria e tempo para um simples bate papo ou até ajudarem a tomar uma decisão na vida sofrida de um irmão.
Sei que é um sonho impossível e cá fora a luta para almejar o mínimo de amor que iguale nossos irmãos a um só sonho é quase uma utopia: vida digna para todos e mais amor no coração.


Dorli Silva Ramos

Blogagem coletiva - Dois anos




  Eu sou Joice, batalhadora, nasci numa favela do Rio de Janeiro e todos os dias na chegada do pôr do sol, desço o morro para trabalhar numa boate no centro da cidade como garçonete.
 Nunca tive nenhuma pretensão de ser prostituta, pois queria ganhar dinheiro, guardá-lo para fazer um curso de teatro que iria começar em poucos meses.
  Meus pais dobraram seus serviços na banca de peixe na feira para me ajudar no curso.
 Uma noite, servindo as mesas como de costume, um homem desconhecido pediu-me um copo de vodka e prontamente fui satisfazer seu desejo, chegando perto da mesa disse: senta. Sentar por que perguntei, meu trabalho é apenas servir bebidas e petiscos. O homem sorriu e pediu-me: por favor sente só um pouquinho preciso falar-lhe. Então sentei.
 Conversando comigo com muito respeito disse que precisava de uma atriz protagonista para atuar em seu teatro itinerante de uma temporada por dois anos pelo mundo e ela tinha todas as características para a vaga.
 Disse da minha situação e a economia que estava fazendo para um curso de teatro. Ele mui gentilmente pagou meu curso de teatro à descontar no meu salário como atriz. 
 Agora, depois do curso, estou pronta para atuar no Teatro Itinerante.
 A peça do teatro era: "Descendo o Morro", peça essa que ganhou fama mundial, graças a minha força de vontade, a economia de meus pais e o empréstimo do dono do teatro, Henrique, já na sua meia idade, em dois anos tornei-me protagonista mais requisitada desse teatro e nesse ínterim conheci quase o mundo todo em dois anos. Foram dois anos de muito sucesso que tive como atriz de teatro. Espero ter sucesso em outras peças por muitos dois anos da minha vida.
 Só algo deixou-me intrigada: por que Henrique procurou a mim? Vim a saber pela minha mãe que já fazia dois anos que ele queria me conhecer, era sua filha, mas minha mãe escondia o endereço de medo que me fizesse algum mal.
 No outro dia cheguei perto de Henrique e disse: 
 -Por que me procurava por tanto tempo? Ele respondeu: 
 -Porque há dois anos fiquei sabendo que tinha uma filha  que morava no alto do morro.
 Abracei e beijei meu pai e com toda a convicção lhe disse: 
 -Pai, os melhores dois anos da minha vida passei em sua companhia no teatro, pois foi nele que me realizei como atriz e conheci uma pessoa genial: você, meu pai.





Dorli Silva Ramos


Minha participação na BC- Dois anos " Escritos Lisérgicos"
( Christian Van Louis)
http://escritoslisergicos.blogspot.com.br

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Romance inacabado





Conheci meu amor passeando num bosque e entre olhares insinuantes nos aproximamos. Meu Deus! Fiquei extasiado tamanha beleza do seu olhar e sua meiguice que impregnava todo o seu ser. Uma mulher maravilhosa. Meu coração acelerou e nunca poderia imaginar que no prazo de um ano estaríamos casados, vivendo uma vida cheia ilusão, paixão e amor.
Alugamos uma pequena casa e lá dentro colocamos o nosso amor para se perpetuar até além da morte. Foi esse o nosso pacto ao adentrarmos na nossa pequena "mansão" como ela dizia.
Ah! Vitória, quantas ilusões tínhamos a dois, até que um dia, você dormindo como uma princesa, levantei-me sorrateiramente e comecei a rabiscar um romance, só não tinha colocado o nome e, assim toda a noite escrevia todas as alegrias e amarguras da nossa vida. O tempo foi passando...10 anos. Rabisquei no romance a nossa felicidade: o dia do nascimento do nosso filho Ricardo.
A vida começou a melhorar, compramos nossa casinha, você ensinava inglês em casa para não deixar nosso filho com ninguém, pois era mãe coruja e uma delícia de mulher.
O romance começou a se estender, mas naquele dia...eu não escrevi mais nada. Minha amada morreu de parto junto com nossa filhinha.
Nunca mais escrevi e o tempo passou...mais 4 anos, meu filho já com quatorze anos achou aqueles escritos e sem me dizer nada, levou-o para seu quarto. Mandou editar o livro sem o final. Nesse livro  ele colocou o nome: Romance inacabado.
E logo que foi editado o primeiro livro, enrolou-o  e deu-me como presente de aniversário, abri o pacote fiquei extasiado quando vi a capa do livro, nela havia gravado uma linda mulher com uma rosa da saudade.
Ao abrir o livro, não acreditei, por uns momentos fiquei feliz ao ver minha vida estampada naquele livro sem final e o nome dado ao mesmo que muito me emocionou. Muitas lágrimas de saudades caíram, uma na rosa que sorriu e outras nos lindos olhos azuis da minha doce e única mulher que amei. Amei não, amo.
O livro foi um sucesso e, por quem passasse em frente a minha casa me via sentado à cadeira de balanço lendo sempre o mesmo romance.


Dorli Silva Ramos

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Mulher dissimulada




Com olhos sonolentos és esperta, uma doce meiguice ao falar, delicadeza abraça dengos, chora um choro de crocodilo, mas quase ninguém percebe.
Sua presa fácil é o homem que escolher, faz dele o que quiser e, sem que ele perceba o leva à destruição ou loucura, fazendo dele seu cãozinho de estimação.
Não é muito difícil para outra mulher desmascará-la, pois seu hálito tem cheiro diferente, suas salivas secam, gesticula suas mãos ao vento, é doce e carinhosa com todos.
O homem demora mais tempo para perceber que tem ao seu lado uma cobra peçonhenta, mas ela sorrateiramente o leva a loucuras de paixões e, depois debruça em seu colo como criança desprotegida. Pensa: ela é boa e precisa de mim.É inteligente, sabe o que quer e só vive o presente, pois no futuro sempre haverá  alguém para assegurá-la em troca de suas urgias no seu ninho de amor. Mas como tudo na vida tem tempo de validade, sua dissimulação será descoberta e ficará à deriva na vida.
Cuidado mulher dissimulada, nessa tua vida sem amor, ao envelhecer sentirá que não viveu uma vida de plenitude, aí o tempo não lhe permitirá voltar e amargará uma triste solidão.

  
Dorli Silva Ramos