Não estava satisfeita com minha vidinha medíocre do interior; resolvi morar numa cidade grande para galgar sucesso, estudar música, trabalhar de empregada para pagar minha faculdade e realizar meu sonho: ser música. Quantos sonhos mirabolantes eu tive! Encontro-me numa pequena pocilga, espremida entre paredes que falam, num quartinho e como companhia à noite: nuvens brancas que se apiedam de mim e lua que bebe as minhas lágrimas.
As nuvens e a lua me aconselhavam a voltar para casa, queria estudar mas a escola era à noite e durante o dia trabalhava de empregada doméstica para pagar o aluguel do quarto onde dormia.
Um dia os patrões foram viajar durante uma semana e me deixaram dormir num quartinho que tinham no fundo para tomar conta da casa.
Nossa, que felicidade! A casa era linda e algo me chamou à atenção: um lindo violão estava em cima da cama de Jorge, filho do casal, rapaz lindo e de boa índole.
À "tardezinha" depois do meu simples jantar fui ao quarto do jovem, peguei seu violão e, sentada no sofá da sala comecei a tocar e cantar baixinho uma música que mamãe gostava, tamanha era a saudade que tinha dela. Bem que ela me avisou.
Aproveitei nessa semana e no domingo, fui fazer o vestibular numa escola pública: queria ser música e fiquei no aguardo da primeira etapa. Nesse meio de tempo os patrões chegaram, encontraram a casa em ordem e uma delicioso jantar.
A mulher ficou estupefata ao ver o cuidado que tive com a casa e o jantar estava delicioso. Nisso alguém gritou lá do quarto. Era Jorge que chegou na sala de jantar e perguntou-me. Quem mexeu no meu violão? Eu que não sabia mentir, respondi que tinha sido eu.
Ele olhou nos meus verdes olhos e perguntou: você gosta de música? Meu rosto ruborizou e pedi-lhe desculpas por pegar seu violão para tocar umas músicas. Então, ele disse: Senta aqui na sala e toca uma música bem atual.
Quando comecei a tocar seu rosto purpureou, seus pais chegaram perto, incrédulos ao ver uma empregada tocar violão tão bem quanto eu.
Então, expliquei que toda a minha vida, queria estudar música e havia feito o vestibular. Foi aí que descobriram que tocava piano e também guitarra.
Deixei meu quartinho, disse adeus as nuvens e a lua, passei no vestibular, eu e Jorge abrimos uma escola de música e está indo muito bem.
Fui atrás de concretizar um sonho, realizei dois, pois casei-me com Jorge para a nossa felicidade e a dos nossos pais.
Dorli Silva Ramos