Você
era tão linda quando nos casamos, de repente veio a doença e você
paulatinamente foi se definhando até a morte. Foi um ano de felicidade e três
de sofrimento, vendo sua beleza se desfazendo e sua alma querendo me deixar. Perdi
o emprego, pois faltava muito para não deixá-la sem minha presença.
Conversava
e declamava lindas poesias de amor, você esboçava um sorriso amarelo, pois sabia
que iria me deixar. E deixou: de seus olhos desceram suas duas últimas
lágrimas, bebi delas, beijei seus lábios já gelados, pois a morte lhe
sorria.Fechou os olhos para sempre, coloquei a cabeça no seu peito e seu
coração não batia mais e gritei: Perdi minha Tereza, perdi minha vida.
Nunca
mais trabalhei, virei um vagabundo pelas ruas a rabiscar a silhueta da minha
Tereza, minha doce mulher, com a qual não tive tempo de viver.
Ganhava
algum dinheiro rabiscando silhuetas das mulheres que por mim passavam, paravam e
pediam as suas imagens e eu as fazia com amor. Era com esse dinheiro que
sobrevivia.
Um
dia passou por mim um senhor muito bem vestido e disse-me: venha comigo,
adentrei a um lindo carro e rodamos por horas até chegar a um prédio, onde li:
jornal.
Nesse
jornal, desenhando, pude refazer minha vida, pagar minhas dívidas e alugar uma
pequena casa, mas a hora que chegava nela, sentia o seu perfume e começava a
chorar.
Passado
alguns anos, não conseguia mais rabiscar sua silhueta e nem sentir o seu
perfume, ela começou a entrar no meu esquecimento e assim encontrei outra
mulher e por ela me apaixonei e nos casamos.
A
vida é assim, quando se é feliz no casamento, o parceiro(a) morre, passado
algum tempo ela(e) envia outra pessoa para nos fazer feliz e reconstruir a
vida e a felicidade de termos filhos sadios.
Dorli Silva Ramos