Era um amor de dar inveja a qualquer um. Bete amava Pedro e esse
não conseguia viver sem seu grande amor. Eles costumavam passear na
plataforma do trem todas as tardes e ali faziam planos para um lindo futuro e
se despediam no pôr do sol.
Bete morava numa pequena cidade do interior e Pedro estava a
serviço na sua cidade para uma empresa multinacional. Ficaram juntos por três
meses. Aí, chegou a hora de Pedro voltar para sua casa, numa distância de dois mil quilômetros e foi numa velha
estação que os dois se abraçaram forte e choravam copiosamente, mas Pedro disse
a Bete esperar que logo voltaria para buscá-la.
O carteiro todos os dias ia levar uma carta para Bete, suas mãos
tremiam e ao abri-la, ela exalava uma fragrância suave, beijava a carta com seu
batom vermelho e seus olhos enchiam de lágrimas. Na carta ele dizia que a amava
muito, que estava preparando tudo para um breve casamento e que viria buscar
ela e seus pais para a cerimônia religiosa que aconteceria na cidade dele.
Um dia o carteiro estava atrasado, mas chegou e entregou-lhe a
carta e naquele dia ao abri-la não sentiu nenhuma fragrância e nem suas mãos
tremeram, apenas beijou a carta com saudade e sentiu umas batidas mais fortes
em seu coração, nessa carta Pedro marcou no sábado próximo chegar para
levá-los. Tudo arrumado para a partida.
Chegou finalmente o sábado e ele chegaria à estação ferroviária ao
meio dia e meia. O coração de Bete começou a bater forte era mais ou menos umas
onze horas, não precisamente, fez-se necessário dar água com açúcar para ela se
acalmar, não adiantou, sentiu um nó na garganta e começou a chorar e quando foi
olhar o relógio já havia passado quinze minutos do horário da chegada. Foi um
alvoroço na estação, um acalmando o outro, talvez, porventura o trem estivesse um pouco
atrasado.
Não, o trem não estava atrasado, ele descarrilou numa ribanceira e
todos que estavam no trem, inclusive Pedro, tinham morrido.
Bete desmaiou e nem viu que os familiares de Pedro vieram buscar
os restos mortais do filho para enterrar longe dali. A vida de Bete acabou no
momento do acidente, nunca mais amou ninguém.
Hoje, já velha, sentada numa cadeira de balanço, lê e relê aqueles escritos amarelados pelo tempo e ainda suspira a saudade que dói seu coração.
Dorli Silva Ramos