Tal
como a borboleta, eu vivo dentro do ventre da minha mãe: está na hora da minha
metamorfose, espremi de um lado e do outro, ouvia choros e pequenos barulhos,
de repente eu saí, sei que me deram um tapa e eu chorei... devo ter adormecido,
quando acordei, me vi apertada em roupas que me incomodavam e uma mulher me
beijava e chorava, chamando-me de minha filha.
Começou
meu sofrimento, de repente ainda pequena, falando algumas palavras, um homem
fraco que dizia ser meu pai me levou para um lugar cheio de crianças tristes, e
quando me dei por mim não mais o vi, nem liguei...não sentia nada por ele
e nem por ela( será por que era muito pequena?).
Fui
crescendo sobre ordens e surras num pavilhão nojento com baratas e sujeiras que
as meninas chamavam de colégio. Nesse colégio, me vestiam com qualquer roupa e
tenho os braços roxos de tantos beliscões.
Cresci
ali nesse antro nojento e Lúcia uma amiga sempre dizia que eu era muito bela e,
escondida no banheiro me deu um pequeno espelho: foi aí que me vi pela primeira
vez, já com meus quinze anos. Me amei, saímos sorrateiramente e à noite disse a
Lúcia que iria fugir dali. Ela me ajudou, roubou um vestido lindo de uma jovem
que tomava conta de nós e jogou do outro lado do muro e com uma força sobre
humana caí do outro lado.
Fui
caminhando, sendo iluminada pelas estrelas e a lua até chegar num córrego. Ali
tirei aqueles trapos e me joguei na água e com as mãos cheias de flores que
pegando pelo caminho esfreguei no meu corpo todo, sentindo um cheirinho gostoso
de flores do campo. Após secar meu corpo coloquei aquela roupa linda,
desalinhei meus cabelos e veio o vento para secá-lo e fiquei a apreciar a
beleza da natureza que nunca tinha visto.
De
repente ouço um barulho forte e começo a correr. O barulho parou e duas mãos me
seguraram:
Um
jovem lindo perguntou-me: onde vai com tanta pressa. Expliquei tudo para ele,
então me colocou em cima do cavalo, subiu atrás de mim e, pegou as rédeas e me
disse: vou leva´-la para minha casa, tenho mãe, pai e irmãos, não se assuste,
não vou lhe fazer mal algum.
Chegando
em casa, contei a família tudo da minha vida, a mãe do rapaz me abraçou e
disse: aqui você está segura.
Os
meses se passaram, Cláudio, o cavaleiro e eu nos apaixonamos. Seus pais foram à
procura do orfanato, já tinha na época dezoito anos e pediu meus documentos que
prontamente me entregaram.
Hoje
é o dia do meu casamento com Cláudio, como estamos eufóricos e muito felizes!