Estava no volante, de repente perdi
a direção e antes de desmaiar vi uma enorme lua azul, apaguei. Acordei numa
enfermaria do SUS, nisso estava querendo acordar, quase desmaiei outra vez. O
médico tinha os olhos azuis como os meus já murchos pelos meus quase oitenta
anos. Pegou-me no colo para levar-me a um quarto. Nisso meu corpo sentiu um
enorme desejo por ele e ele por mim.
Colocou-me na cama e disse: já
volto. Estava com umas roupas esquisitas e minhas mãos não haviam rugas, então
chamei a enfermeira e pedi baixinho: você não tem um espelhinho para me
emprestar? Foi buscar e quando vi minha imagem refletida no espelho quase
apaguei outra vez. Olhei várias vezes, daí que fui entender aquela louca paixão
que sentimos um pelo outro.
O médico chegou perguntei se no
acidente tinham achado meus documentos, ele próprio disse que achou todo
amassado e foi fazer outros e me entregou: Por que fez isso? Você sabe a minha
idade. O médico respondeu: amor não tem idade: amo você jovem e linda e se você
envelhecer, mudaremos de lugar e a amarei, cuidarei das suas dores até você
morrer e quando você se for irá levar a metade da lua que viu naquele acidente.
Como? perguntei. Ele respondeu: com
uma agulha furarei um olho meu para que todos saibam que amor é coisa de pele,
de brasas nas entranhas de beijos em qualquer idade e de muita saudade.
N'outro dia ela morreu feliz e
amada, ele foi ao velório com um olho vendado chorando como uma criança.
Aviso:
Já que a dor é constante
Quando tomar o remédio "sossega" leão
Eu escrevo alguma coisa.
Já que a dor é constante
Quando tomar o remédio "sossega" leão
Eu escrevo alguma coisa.