sexta-feira, 19 de abril de 2013

A jovem velha



Jovem, onde vais solitária?
O que fizeste de tua vida?
Viveste muito, envelheceste demais
Ante a dores e zumbidos

Jogaste tua vida nas bebidas
Nas noitadas de orgias
Alimentaste mal, corpo velho
Hoje teus olhos estão cansados

Temos que viver uma fase por vez
Gastaste tua beleza e sedução
Agora, face com sulcos profundos
És a bonita jovem velha

O tempo para você acelerou
Perdeste a bela magia da juventude
Jovens, hoje não te olham mais
Só te resta a solidão...


Dorli Silva Ramos



O primeiro amor




O primeiro amor
É como uma ventania
Passa por nós
Deixando saudades

Dos beijos leves
O pegar na mão à passear
Das bobas e sutis promessas
De um amor eterno

É gostoso ir ao cinema
Comer chocolate e beijar na boca
Sentir um calafrio
Quando o beijo é no colo

Afastar a mão boba do amor
Da nudez das pernas
Mas que a vontade era apertá-lo
No peito e dizer: eu te amo

Palavrinha boba da juventude
Sair suando do cinema
Imaginando mil desejos desfeitos
Talvez esse não seja
O verdadeiro amor...


Dorli da Silva Ramos

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Tudo está no mesmo lugar




O dia começou a trovejar e as nuvens prenunciavam fortes chuvas e, com minha bengala surrada pelo tempo, fui subindo paulatinamente uma pequena escada que dava no andar de cima da nossa casa que ficava num bairro nobre da cidade, a fim de fechar a janela do escritório dele.
Minha amiga ajudante, nesse dia ia atrasar um pouco, deixando-me só com meus pensamentos.Há quinze anos que ele partiu para o infinito e no seu escritório tudo está no mesmo lugar.
Quando Rosária, minha minha ajudante e amiga ia limpar o escritório de Levi, lá estava eu para fazer alguns detalhes que só eu, como esposa solitária podia fazer. Sentir o cheiro da saudade e do amor.
Ela limpava com cuidado, não tirando nada do lugar, só a água era trocada todos os dias, enquanto ela arrumava o escritório eu sentava em sua cadeira de balanço para ler as lindas cartas que escrevia semanalmente para mim, desde o dia em que nos conhecemos há cinquenta anos.A cada ano que passava suas cartas eram mais delicadas e perfumadas com o perfume da saudade. Deixava cair algumas lágrimas e com isso elas ficavam cada dia mais difíceis de ler. Mas não era preciso lê-las, já as sabia de cor.
Quando vivo, enquanto ele escrevia seus contos e poesias, eu balançava e, de ponto em ponto à tricotar seu novo suéter. Fazia frio. Estão todos guardados num baú que procuro não abrir muito, só quando meu coração dói de saudades, abro-o rapidamente e ali está impregnado o seu cheiro, o cheiro do meu poeta apaixonado. Fecho-o rapidamente, viajo meu olhar em todos os seus pertences e uma lágrima mais doída corre meu rosto, fazendo poças nos sulcos do meu rosto, que deixo secá-las naturalmente. 
Seu livro de rascunho velho e amarelado com o tempo escondem os nossos segredos de amor. Quanta luxúria em forma de estrofes estão grudadas naquelas páginas que só nós dois lemos e deverá ser incinerado no dia em que eu for encontra-me com ele.
Oh! Levi, sinto que o tempo está encurtando nosso encontro e meu coração, já velho de saudades, anseia esse encontro.
Levi, a vida é vazia sem você, nunca deixei de amá-lo.


Dorli Silva Ramos

Meigo amor





 Amor que vi no meio das veredas
 Pasmou-me sua meiga beleza
Olhos da cor da pedra safira
Cabelos doirados da cor do sol

Ao cruzarmos aquele longo caminho
Um tremor sacudiu meu coração
Gritei por ela, que voltou num ímpeto
Algo forte acontecia: era o amor

Sorriu com ternura, olhos brilhavam
Peguei suas mãos geladas e disse
Não tenha medo desse amor
Ele está nascendo no nosso coração

Toquei seus cabelos doirados e macios
Fixei aqueles olhos azuis entorpecidos
Beijei aqueles lábios sedentos
Foi numa vereda que nasceu o amor

Amor que hoje é minha mulher
Transborda de carinhos e dengos
É um grande amor que perpetuará
Por infinitos anos, até a eternidade


Dorli Silva Ramos