Todos os os dias quando o Sol acorda, abro as cortinas da janela do meu quarto e só vejo umas rosas olhando para mim, nenhum carro, a casa do outro lado está vazia. Não vejo a vida passar.
Que lugar é esse que papai escolheu para morarmos, não saio às ruas, não tenho amiguinhos, nada acontece.
Às vezes me pergunto será que já morri? Ou papai está fugindo de alguma coisa? Mamãe e papai pouco falam comigo e eles não me deixam sair.
Cinco vezes por semana chega aqui uma velha taciturna com uns livros debaixo do braço: sentamos numas cadeiras perto da mesa e me ensinava português, matemática e latim. Por que não ciências, história e geografia? Talvez quisessem a minha alienação.
O nome da cidade era cidade Nua. Ainda não entendia o significado dessa palavra, foi quando minha professora foi ao banheiro, peguei rapidamente um pequeno dicionário e fiquei sabendo o significado de nua.
No outro dia, de madrugada, sabia onde meu pai guardava as chaves da casa, fiz uma trouxinha de roupa, abri a porta, a tranquei e joguei as chaves perto da roseira.
A roseira parecia sair. Caminhei muito, eis que de repente para um carro com um casal jovem e pediu que eu entrasse e ele saiu em disparada, então perguntei: por que corre tanto? Para que os espíritos dos seus pais já mortos não a alcancem, foi aí que percebi o cativeiro.
Depois de alguns dias, o casal que não tinha filhos com a papelada nas mãos disse: agora você já é nossa filha querida. Corri abraçá-los.