Era um dia meio nublado, eu com meu violão sem saber o que fazer, pois o silêncio me
transpunha para um mundo imaginário: o mundo do silêncio da alma, nem mesmo a
brisa matinal me visitou esse dia, minha boca quis gritar, mas o silêncio da
minha alma me calou.
Comecei a fazer um retrospecto da minha vida e senti que meu
corpo mutilado pelo desprezo dos homens com suas orgias me fez mulher triste e
namorada do silêncio da alma, companheira inseparável durante o dia, pois à
noite sempre alguém estava a minha espera em qualquer esquina da vida.
Ah! Maldito dia que me desgarrei da minha família lá no
interior, onde passeava descalça pelos prados coloridos com lindas flores do
campo. O lugar era simples, mas a natureza quase que intacta fazia de mim uma
menina feliz ao beber água na mina pertinho de casa. Tantas boas recordações
que ficaram num passado distante.
Hoje moro num quartinho, sozinha durante o dia e a noite
tenho que estar bela para poder sobreviver, mas agora não posso voltar mais ao
sítio, meus pais morreram e eu era a sua única filha. O que fazer?
A vida não tem retrocesso...
Dorli Silva Ramos