Onde Francisco acharia forças para suportar a perda de Verônica,
sua linda mulher, que sem se despedir amanheceu sem vida numa manhã de
carnaval? Nos vizinhos, talvez: nenhum amigo soubera do acontecido e, em pleno
carnaval, Verônica desceu sepultura e de longe podia se ouvir o batuque do
carnaval que mal havia começado.
Na saída do cemitério, queria ficar só, caminhava a passos lentos,
parou num boteco, comprou uma garrafa de cachaça e foi bebendo a grossos goles
até chegar a seu pobre barraco.
Chorou...mas como ele chorou: não tinha filhos, nem parentes, nem
ninguém que lhe desse uma palavra de consolo e, como nunca tivesse bebido,
adormeceu.
Acordou sonolento, segurando pelas paredes e numa latrina esvaziou sua dor e, por alguns instantes não sabia o que tinha acontecido e
chamava por Verônica. Daí, a dura realidade fez morada no seu pensamento: estou
só. Verônica morreu...
Comeu uns restos de comida que havia nas panelas em cima do fogão
a lenha, tomou na bica de bambu um gole d'água, sentou-se num banquinho à
frente do barraco com seu pandeiro e, segurava o vestido luzido de sua mulher
que ia dançar o carnaval. Gostava de tocar seu pandeiro perto da sua amada que
dava um show de samba. Francisco emudeceu... Nisso, aparece um amigo
também com seu pandeiro e, sentados bem em cima do morro, os dois batucavam uma
triste melodia. Nesse instante, o céu escureceu, uma forte chuva caiu, o
pandeiro de Francisco rolou morro abaixo e, ele na sua insana mente gritava: Verônica está escorregando o morro e se jogou morro abaixo para
salvá-la e foi se encontrar com ela no céu.
Seu amigo atordoado gritava desesperado. Mais nada podia fazer,
pois um, não conseguiria viver sem o outro e na sua sã consciência falou baixinho:
menos um boêmio à sofrer nos bares das noites da vida.
Essa é a história de um amor verdadeiro que não precisava de um
castelo para ser feliz, apenas um barraco e quatro noites de carnaval, pois um completava o outro.