Quando tinha apenas sete anos, vivia em São Paulo com meus pais
e irmãos debaixo de uma ponte na mendicidade. Era triste não ganhar presentes
no Natal, a cidade reluzia e eu nada para comer. Meu estômago roncava a fome. Ô vida desgraçada.
Banho nem pensar, mas tinha algo no meu olhar e, quando refletia
meu rosto num pedaço de espelho, sentia que algo bom iria acontecer comigo,
pois a esperança era a cor dos meus olhos.
Com o pouco que conseguia ganhar dava para comprar: alguns
pães e uns tomates amassados e ao chegar em casa sem dinheiro para a pinga dos
meus pais, apanhava muito e corria para me esconder numa esquina qualquer.
Mas um dia tudo mudou na minha vida, um casal que sempre passava
por mim, além de me ajudar, mudou radicalmente minha vida, pois quis adotar-me
e minha mãe disse: pode levar, isso não vale pra nada. Chorei.
Depois de todos os papéis de adoção assinados sumimos para uma
cidade da Região Sul. Lá eu cresci, estudei nos melhores colégios e o mais
essencial: tinha o amor dos meus "pais".
Não contamos para ninguém o ocorrido, me formei, casei-me com uma
mulher maravilhosa, tivemos os nossos filhos na bem querência e, o mais lindo
detalhe: cuidamos dos velhos até a morte.
Sinto muitas saudades deles, meu amor por eles é tão intenso que
nem um vendaval me fará esquecê-los.