No primeiro dia de aula. Sala cheia, todos éramos colegas pobres de brincadeiras nas ruas, enquanto algumas meninas de família tradicional estudavam em colégios internos ou em outras cidades em escolas pagas. Fizemos fila no pátio, balbuciamos algumas palavras, quando diante da Bandeira do Brasil, os mais velhos cantavam com a mão no peito, o Hino Nacional.
Entramos na sala e sentamos. Ao entrar uma mulher esbelta e bela, nos levantamos, ela cumprimentou a todos e nós respondemos, então, ela nos mandou sentar.
Eu já não aguentava mais ficar fazendo cobrinhas por três meses, haja vista, que tinha frequentado o jardim da infância por dois anos. Mas, como tudo passa esse período também passou até que ela chegou com alguns livros na mão. Nosso primeiro livro: a cartilha: Caminho Suave.
Fiquei deslumbrada ao ver aqueles desenhos na cartilha, levei para casa e pedi que minha mãe o encapasse bem bonito e, fui vasculhando com uma louca vontade de ler a cartilha inteira, mas ainda não sabia a leitura.
Começamos, então, a aprender as primeiras letras, e logo que começamos a juntá-las, dei um grito bem alto: professora, a senhora não precisa mais me ensinar, pois eu já aprendi a ler. Ela ficou espantada e disse para que eu lesse as duas primeiras linhas e, eu li:
A pata nada
Pata pa Nada na
Então, toda feliz gritei novamente: professora, a senhora não precisa mais me ensinar a ler. A hora que cheguei em casa comecei a ler a cartilha e quase li tudo, mas cansada, fui dormir...
Após quatro meses eu já estava alfabetizada, deixando os meus coleguinhas para trás, então, para não perturbar ela trazia de sua casa alguns livrinhos para eu ler. Que professora paciente e maravilhosa, jamais irei esquecê-la.
Hoje é diferente, tudo é moderno nas escolas, professores para tudo e a maioria dos alunos não aprendem na primeira série, talvez por conta da progressão continuada, estamos formandos profissionais semianalfabetos. Eu, às vezes, penso...será a alimentação ou discrepância dos professores antigos que só trabalhavam em um período, pois o seu salário se equivale, hoje, a de um juiz de direito, mas atualmente os professores correm de um lado para o outro para ganharem uma merreca que não da nem para o sustento da família, perdem o interesse e os alunos muito indisciplinados, tantos já viciados na tenra idade, fazem da escola uma guerra de não aprender nada.
Eu como professora, sempre fui muito exigente e alfabetizava os alunos em quatro meses e, por falar muito baixo, minha classe sempre foi disciplinada, tinha que ser para me ouvir, nunca gritava, só meu olhar dizia tudo, nunca fui de beijar as crianças, mas elas gostavam do meu toque de mão em seus ombros dizendo: está muito bom, você vai longe e seus sorrisos irradiavam.
Estou aposentada desde 2005 e continuei minha jornada até quase o final de 2011, foram trinta e nove anos de trabalho, sete anos na prefeitura de uma metrópole e o resto ministrando aulas.
E, no fritar dos ovos, eu sempre fui uma pessoa realizada na profissão e no amor e até hoje tenho um bom discernimento para saber o que é bom ou ruim para a minha vida
Há, ia me esquecendo: nunca estudei para provas, pois eu tinha um problema: só aprendia ouvindo, hoje, com a idade, tenho que ler muito para poder interpretar um texto um pouco mais extenso.
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