quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Minha vida ( ficção )



Vivo só, ou melhor, só é um modo de falar, pois tenho meu cachorrinho que me faz companhia o dia todo.É  meu companheiro nas horas de solidão. Tive uma vida glamorosa como estilista de modas. Tinha meu ateliê numa rua principal da capital paulista, um marido empresário e uma filha que estudava nos  Estados Unidos, hoje bem casada e com filhos maravilhosos, meus queridos netos que em todos os  natais vêm me visitar aqui no Brasil.Meu esposo se foi há dez anos. 

Não tenho mais idade para tocar um ateliê, mas costumo fazer algumas costuras para as vizinhas do bairro. Não muito, pois gosto de ler, ouvir música clássica que sempre foi a minha paixão e de meu amor. Ele sentado num enorme sofá, eu me aconchegava em seu colo. Que delícia! Suas mãos deslisava meu rosto e ombros com carinho e me beijava com doçura. Dormia. As músicas ainda tocavam baixinhas, pois ele colocava vários discos na vitrola; acordava suavemente com seu toque sutil e íamos dormir.

Minha casa é simples, pequena, mas tem o estilo clássico dos tempos de outrora. Não perdi minha elegância, pois era um dos adjetivos que meu amor gostava de ver em mim. Às vezes, penso que ele está trabalhando, tamanha era a nossa afinidade. Deixo minha sala de costura, preparo um almoço bem caprichado e seu prato sempre fica debruçado à mesa, sua taça de cristal e sua garrafa de vinho tinto envelhecido e espumante. Tomo um pouquinho como que querendo fazer-lhe companhia, é uma sutil harmonia que paira no ar.

Sou uma mulher de sorte, apesar de ter só o estilo, pois o dinheiro quase todo foi gasto na tentativa de deixá-lo aqui comigo. Foi-se o dinheiro e também meu companheiro, sinto muitas saudades dele, mas tenho que viver, pois meu tempo aqui na Terra ainda não acabou e consegui durante minha vida conquistar muitos amigos que estão sempre aqui à me fazerem companhia. Também saio na companhia deles quando tem uma boa peça teatral ou algum concerto musical.

Eu aceito tudo que é natural na vida e você aí garotinha de vinte anos, porque perdeu o namorado, pragueja ou quer se suicidar? Tenta você viver cinquenta anos de felicidades e dez anos de solidão...Será que você aguentaria? Só aguenta quem tem sabedoria dos percalços que temos que passar na vida.E temos, a todo instante, agradecer ao Pai.


Dorli Silva Ramos


14 comentários:

  1. Muitas coisas que a gente cria pela paisagem ao redor,,,faz parte do movimento da nossa alma,,,da nossa vida,,,nem tudo é muito real,,,nem tudo é muito ficção...beijos de bom dia pra ti amiga.

    ResponderExcluir
  2. Dorli! Amei seu Blogger; bem sua simplicidade de contar, encarar e poetizar a vida... Eu fui, o que sou, o que fiz, quem verdadeiramente amou; quem verdadeiramente soube amar, e que guardou e guarda este amor, como um talismã. Eu adorei você: na sua forma de se definir, que foi o que foi, mas que nada mudou e que nem guarda cicatrizes da vida, e que guarda dentro de si: uma coisa peculiar... A Grandeza de construir e preservar.
    Não vou te pedir desculpas pelas considerações que te fiz... Talvez te sirva para rir de um passado que nunca morreu, por que você continua viva, ativa, e ensinando muita gente, com esse seu espírito juvenil, e ensinando a mim que também sou vovô e vovó, é incrível admitir, mas quando vejo a primeira neta que Deus me deu a oportunidade de ver nascer, pegar, sentir! Os "abelhudos" podem censurar... Dentro de mim... Um pouco de "mulher".
    Agora! Aqui entre nós dois! Foi um grande prazer te conhecer.
    Dr. Ademar, "Anônimo da Poesia e da Arte".

    ResponderExcluir
  3. Dorli! Há poucos minutos fiz comentário vazado em uma sua postagem, e só após vi (ficção). Mas não tira o mérito do elogio. Tem mais, já vivi meus 60 anos de consciência ativa. Chama-me de vovô ou de vovó (pela minha netinha de 02 meses)... Mas não me chamas de "Passado" ou "Solidão"... Um beijo.
    DR. Ademar dos, "Anônimos da Poesia e da Arte".

    ResponderExcluir
  4. Um ótimo conto Dorli, é vdd essa semana mesmo aqui na minha cidade um rapaz se suicidou pq a namorada de 16 anos terminou com ele,uma pena mesmo a vida nem tinha começado e no primeiro problema ele já não aguentou, parabéns muito bem escrito.

    ResponderExcluir
  5. Você sempre traz belas surpresas no final dos teus contos e aqui uma bela lição para a juventude que pensa saber tudo da vida. Parabéns querida.
    Beijos e um lindo dia para você.

    ResponderExcluir
  6. Oi querida Dorli, temos mesmo que aceitar os percalços da vida com sabedoria, e jamais desistir de lutar e ser feliz!
    Lindo post!
    Beijos amiga!
    Mariangela

    ResponderExcluir
  7. Dorli, a sua vida foi e é uma enorme aprendizagem que serve de lição para muita gente. Continue sempre assim, tão linda e elegante, tanto por fora como por dentro.
    Beijinhos de Luz!
    Ana Maria

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Desculpa, não gosto de responder no blog, já respondi no seu e para que não haja mal entendido, o meu conto é uma ficção, não é minha vida. Eu sou o oposto do conto.rsrs
      Beijos
      Lua Singular

      Excluir
  8. Olá amiga Dorli!

    Gostei muito do teu conto. Está encorajador e transmite uma bonita reflexão para quem vive queixando-se da vida.
    Parabéns!

    Beijinhos,

    Cris Henriques

    http://oqueomeucoracaodiz.blogspot.com

    ResponderExcluir
  9. Olá,amiga Dorli!
    Belo conto!que faz as pessoas refletirem.
    Beijos no core.
    Soninha.

    ResponderExcluir
  10. Oi amiga Dorli belo conto que faz a gente pensa,
    beijos

    ResponderExcluir
  11. Sempre lindas palavras, beijo Lisette.

    ResponderExcluir
  12. De tanto gostar
    Aqui estou eu
    Para esta lua olhar
    Prateada ela nasceu!

    Para iluminar
    O que na terra nasceu
    Se a pudesse abraçar
    Isso gostava eu!

    Desejo uma boa noite para você,
    amiga Dorli,
    um abraço
    Eduardo.

    ResponderExcluir