terça-feira, 21 de agosto de 2012

Que saudade do Grupo Escolar...



No primeiro dia de aula. Sala cheia, todos éramos colegas pobres de brincadeiras nas ruas, enquanto algumas meninas de família tradicional estudavam em colégios internos ou em outras cidades em escolas pagas. Fizemos fila no pátio, balbuciamos algumas palavras, quando diante da Bandeira do Brasil, os mais velhos cantavam com a mão no peito, o Hino Nacional.
Entramos na sala e sentamos. Ao entrar uma mulher esbelta e bela, nos levantamos, ela cumprimentou a todos e nós respondemos, então, ela nos mandou sentar.
Eu já não aguentava mais ficar fazendo cobrinhas por três meses, haja vista, que tinha frequentado o jardim da infância por dois anos. Mas, como tudo passa esse período também passou até que ela chegou com alguns livros na mão. Nosso primeiro livro: a cartilha: Caminho Suave.
Fiquei deslumbrada ao ver aqueles desenhos na cartilha, levei para casa e pedi que minha mãe o encapasse bem bonito e, fui vasculhando com uma louca vontade de ler a cartilha inteira, mas ainda não sabia a leitura.
Começamos, então, a aprender as primeiras letras, e logo que começamos a juntá-las, dei um grito bem alto: professora, a senhora não precisa mais me ensinar, pois eu já aprendi a ler. Ela ficou espantada e disse para que eu lesse as duas primeiras linhas e, eu li:
                       A pata nada
       Pata pa                         Nada na
Então, toda feliz gritei novamente: professora, a senhora não precisa mais me ensinar a ler. A hora que cheguei em casa comecei a ler a cartilha e quase li tudo, mas cansada, fui dormir...
Após quatro meses eu já estava alfabetizada, deixando os meus coleguinhas para trás, então, para não perturbar ela trazia de sua casa alguns livrinhos para eu ler. Que professora paciente e maravilhosa, jamais irei esquecê-la.
Hoje é diferente, tudo é moderno nas escolas, professores para tudo e a maioria dos alunos não aprendem na primeira série, talvez por conta da progressão continuada, estamos formandos profissionais semianalfabetos. Eu, às vezes, penso...será a alimentação ou discrepância dos professores antigos que só trabalhavam em um período, pois o seu salário se equivale, hoje, a de um juiz de direito, mas atualmente os professores correm de um lado para o outro para ganharem uma merreca que não da nem para o sustento da família, perdem o interesse e os alunos muito indisciplinados, tantos já viciados na tenra idade, fazem da escola uma guerra de não aprender nada.
Eu como professora, sempre fui muito exigente e alfabetizava os alunos em quatro meses e, por falar muito baixo, minha classe sempre foi disciplinada, tinha que ser para me ouvir, nunca gritava, só meu olhar dizia tudo, nunca fui de beijar as crianças, mas elas gostavam do meu toque de mão em seus ombros dizendo: está muito bom, você vai longe e seus sorrisos irradiavam.
Estou aposentada desde 2005 e continuei minha jornada até quase o final de 2011, foram trinta e nove anos de trabalho, sete anos na prefeitura de uma metrópole e o resto ministrando aulas.
E, no fritar dos ovos, eu sempre fui uma pessoa realizada na profissão e no amor e até hoje tenho um bom discernimento para saber o que é bom ou ruim para a minha vida
Há, ia me esquecendo: nunca estudei para provas, pois eu tinha um problema: só aprendia ouvindo, hoje, com a idade, tenho que ler muito para poder interpretar um texto um pouco mais extenso.

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5 comentários:

  1. Boa noite Dorli. Gostei do seu texto, quase "me transportei" diante da descrição de sua escola, como se eu estivesse ali presente.
    Sobre a alfabetização há dois lados, parece-me, hoje. Alguns estão se alfabetizando com 5 anos enquanto há pessoas que saíram do Ensino Médio e ainda não sabem a diferença entre "agente" e "a gente" ou "mais" e "mas". E vemos estes erros sofríveis direto nos blogues.
    Claro que um erro de digitação ou ortografia é normal ocorrer, afinal, somos humanos, no entanto, há erros sofríveis, inadmissíveis para alguém que já passou do Ensino Médio.
    Não sei de quem é a culpa, se há culpados.
    Apenas sei que eu tive um incentivo muito grande à leitura junto com meu pai e, tal como você, acabei me alfabetizando praticamente sozinho. Para mim era muito lógico, descobrir o alfabeto, sonorizar as letras, juntá-las e formar palavras. Já entrei na escola alfabetizado, por este motivo, penso que há casos e casos...
    Enviei o e-mail para você.

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  2. Ótimo texto...Acompanho cada um dos textos que você posta e percebo a sua evolução, tanto em termos pessoais (ou emocionais) quanto em termos "técnicos"... Parabéns por ser quer você é, e principalmente parabéns por nos brindar com tanto talento... Continue assim e seja muito feliz!

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  3. oi minha querida. Eu tinha de vir aqui ler esse texto. Feliz de quem já está fora da escola. Educar sempre foi e continua sendo uma missão gratificante mas nos dias de hoje, é muito mais difícil. Hoje não usamos mais cartilhas como " Caminho Suave" por imposição das secretarias de educação e os professores novatos se perdem no emaranhado de descritores que as "supervisoras" insistem que este é o melhor caminho. Eu como sou bem mais antiga não caio nessa onda de modernismo e continuo com o método da silabação já que a temos uma língua alfabética e totalmente silaba. Um excelente post. Parabéns!
    Beijokas
    Gracita

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  4. Deixar um elogio pra vc é tudo de bom
    Visitar e ver coisas mais que divinas
    faz bem para nosso dia
    Abraços com carinho
    Rita!!!!

    esse texto deu saudade, que bom era aquele
    tempo do grupo escolar, parabéns viu

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  5. Boa noite
    Dorli então você é uma professora particularmente tenho uma grande admiração por antigos professores, não que os de hoje não mereçam,antigamente os professores eram empenhados no genuíno ensino.
    Seu texto fez-me teletransportar para o tempo escolar.
    Eu aprendi a ler na 1ª série com o livro "O barquinho amarelo".
    Ótimo domingo!
    Abraços

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